Galeria Municipal do PortoGaleria Municipal do Porto

Memória de Elefante 2023
A Primeira Exposição Colonial Portuguesa decorreu em 1934 nos Jardins do Palácio de Cristal. O seu ex-libris era uma grande escultura de um elefante, exposta no telhado do Palácio de Cristal, na época intitulado Palácio das Colónias. Homenageando o elefante enquanto símbolo e animal real com uma grande capacidade para reter e transmitir conhecimento, Memória de Elefante revisita a cultura material, arquivos e reminiscências coloniais associados à cidade do Porto através de workshops, percursos e conversas, com artistas, ativistas e educadores com o objetivo de discutir as implicações e legado do colonialismo.
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PING! / escolas / 17, 18 e 19 de abril

Workshop Filtros para Transgressão da Imagem, com Thais de Menezes

Filtros para Transgressão da Imagem foi um workshop que partiu de uma ação decolonial e da desconstrução de três lugares: a Escola Secundária Infante D. Henrique, o Palácio de Cristal com os seus jardins e a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, que têm em comum a sua conceção temporal e ideológica.
 
Ao reunir estudantes e professores em três encontros, Thais de Menezes potencializou experiências coletivas, tanto na sala de aula como no seu atelier, numa tentativa de transgressão do ensino e dos seus métodos de aprendizagem. O retrato na pintura e na fotografia, as suas descrições, e ainda imagens digitais com recurso a filtros ou máscaras, foram abordadas e ensaiadas, gerando novas representações.  
 
A partir destas práticas artísticas e do acervo da exposição colonial de 1934, propõs-se a (re)criação de modos de observação de si e do outro. O desenvolvimento de uma instalação coletiva permitiu que novos “filtros de observação” tenham em consideração os lugares de fala e de escuta, mas também os diferentes modos de vida, de culturas e saberes. 
 
No contexto deste workshop, aconteceu ainda uma conferência por Beatriz Lemos, curadora MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que a partir do projeto desenvolvido trouxe a sua visão e experiência em práticas curatoriais e de mediação antirracista. 


 
Thais de Menezes é brasileira, e constrói as suas atividades entre o Porto e Barcelona. Integra o Programa de Estudos Independentes (PEI) no MACBA, é mestranda no curso de História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa e graduada em Dança pela Faculdade Angel Vianna (Brasil).  
Desenvolve uma pesquisa curatorial em práticas artísticas que transitam entre a performance e as artes visuais. Pertence, desde 2012, ao coletivo Desdito, com o filósofo Fabio de Oliveira. Juntos, têm vindo a apresentar propostas no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo (Brasil) e nos Jardins do Museu de Arte Moderna (Brasil), performances em espaços urbanos públicos e seminários em instituições de arte e cultura.  
Atualmente coordena o projeto ATRAVESSA, localizado no atelier da artista no Porto, procurando ser um lugar de partilha de trabalho e criação com artistas, ativistas e pensadores na área da filosofia e literatura.

Fotografia: Rui Meireles / Ágora Porto
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Quinta-feira, 25 de maio, às 19 horas

Conversa: Costurando entretempos: notas sobre curadoria, educação e acervos, com Beatriz Lemos

A partir de uma prática curatorial que articula arte, processos de aprendizagem e memória, a curadora Beatriz Lemos junta-se ao PING!, para partilhar os mais recentes projetos expositivos, programas públicos e publicações realizadas pelos departamentos de Curadoria, Educação, Comunicação e Acervo do MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Brasil. 
 
A conversa acontece no âmbito do workshop Filtros para Transgressão da Imagem, orientado por Thais de Menezes, e que partiu de uma ação decolonial e da desconstrução de três lugares: a Escola Secundária Infante D. Henrique, o Palácio de Cristal, com os seus jardins, e a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, que têm em comum a sua conceção temporal e ideológica.
 
 
 
Beatriz Lemos trabalha em curadoria e dirige a plataforma Lastro – Intercâmbios Livres em Arte. A partir de perspectivas contra-hegemónicas, atua na condução e articulação de processos transdisciplinares em rede, de criação e aprendizagem. Com formação em História da Arte pela UERJ e mestrado em História Social da Cultura pela PUC RJ, a sua investigação curatorial iniciou-se em 2003,  compreendendo um vasto currículo de exposições, residências, publicações, articulações de redes, práticas em educação, coordenações de programas de residências, conferências e processos de pesquisa, para além da organização, catalogação e mediação de acervos.  Atualmente, é curadora Adjunta do MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Brasil.

Fotografia: Rui Meireles / Ágora Porto

Percursos pelos jardins

As árvores não são, afinal, as únicas testemunhas

No ano de 1934, o Porto foi o local escolhido para a realização da Primeira Exposição Colonial Portuguesa. O Palácio de Cristal recebeu uma nova fachada, num estilo mais moderno e foi apelidado, temporariamente, de Palácio das Colónias. Nos jardins oitocentistas, foi encenada uma ideia de império português, através da recriação de “aldeias indígenas”, onde mulheres, homens e crianças foram exibidas e exoticizadas para legitimar uma campanha de angariação de novos colonos.

Poucos parecem ser os traços deixados por esta exposição nos jardins, mas é precisamente esta ideia de falsa invisibilidade que levou o PING! a refletir sobre o impacto desta exaltação colonial na cidade. As árvores não são, afinal, as únicas testemunhas é o título de um programa de percursos pelos jardins que utilizará registos visuais, souvenirs da época e o legado que permanece no espaço público urbano para revisitar e debater essa exposição colonial.

Cada percurso será conduzido por Claire Sivier e Marta Lança que, nas suas práticas artísticas e de investigação, têm vindo a estimular o debate e a abri-lo a uma perspetiva pós-colonial. No final de cada atividade, haverá espaço e tempo para uma conversa em conjunto. 


 
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PING! / 3 de junho (16h00)

Percurso pelos Jardins com Marta Lança: A África que vem: da Humilhação à Afrotopia

Se o colonialismo instrumentalizou o conhecimento e a ignorância para colonizar territórios e mentes, essa pretensão foi depois substituída pelas políticas de "desenvolvimento" (progresso, razão, crescimento e ordem). A partir de um lugar onde por excelência se encenou uma visão de mundo de ordem hierárquica e onde africanos foram humilhantemente coisificados (na Primeira Exposição Colonial Portuguesa, 1934), vamos procurar o que África nos ensina todos os dias e desde há muitos séculos atrás.

Subvertendo a lógica da inferioridade racial, que sustentou o equívoco e o programa europeu de “civilizar” o outro (como aquele que deve absorver os valores de uma suposta civilização europeia), e na antítese da uma e indivisível soberania nacional e imperial do colonialismo português, faremos um percurso por sentidos comunitários, utópicos, vivenciados e imaginados, com Afrotopia (2016) do pensador senegalês Felwine Saar, no horizonte.

 
Marta Lança, assumindo as projeções e efabulações, conduz-nos através de palavras e imagens nos recantos dos jardins, para nos ajudar a pensar essa África que vem e as metáforas de um futuro de equilíbrio entre as dimensões económica, cultural e espiritual. 
Formada em Literatura Portuguesa e doutoranda em Estudos Artísticos, Marta Lança tem investigado sobre questões pós‑coloniais, disputas de memória e produção de conhecimento em plataformas colaborativas. É trabalhadora independente nas áreas da cultura e jornalismo, fazendo regularmente projetos em Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné e Brasil. Criou e edita, desde 2010, o portal BUALA. 

Fotografia: Renato Cruz Santos
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Sábado, 28 de outubro às 16h00

Percurso pelos Jardins com Claire Sivier

Convidamos-vos a visitar os jardins do Palácio através da perspectiva da artista e investigadora britânico-jamaicana Claire Sivier, juntamente com os colaboradores locais. 
 
Após a Primeira Exposição Colonial Portuguesa de 1934, o que se prolonga no interior do jardim quase 90 anos depois? Que remessas ocultas permanecem e reflectem as perspectivas actuais da sociedade? E como é que isto se relaciona com as narrativas mais vastas das histórias coloniais diásporas? Como podem estas considerações sondar-nos para reenquadrar a nossa compreensão destas narrativas no momento presente? Esta viagem interactiva encorajará os participantes a reflectir sobre estas questões, reunir as suas perspectivas pessoais, considerar a sua relação com o espaço, e ponderar as ações que poderão querer levar por diante no futuro.
Claire Sivier (ela/dela) é investigadora negra-britânica, produtora cultural, que trabalha e vive no Porto. Nos últimos 12 anos, o seu trabalho é desenvolvido com e para artistas, jovens e pessoas de comunidades marginalizadas, para além de organizar uma variedade de festivais e programas culturais em diferentes países. Em 2020, Claire concluiu o mestrado em Arte e Design para o Espaço Público na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde desenvolveu uma metodologia de arte ambulante, explorando as experiências vividas por artistas negras da diáspora no Porto. Desde então, fundou a Caminhada de Mulheres Negras (2021). Integra o InterStruct Collective. 
 
Fotografia: Renato Cruz Santos
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Quinta-feira, 30 de novembro às 19 horas

Terra – Conferência com Gabriela de Matos e Paulo Tavares

Este ano acontece a 18ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza com o tema central Laboratório do Futuro. Nesta conferência, Gabriela de Matos e Paulo Tavares – curadores do Pavilhão do Brasil – partilharão o que foi pensar o Brasil enquanto Terra, nesta que foi a exposição vencedora do Leão de Ouro. 
 
Nas palavras desta dupla, explicam que terra é “solo, adubo, chão e território. Mas também terra é em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”. 
 
A conversa será moderada por Andreia Garcia, curadora da representação oficial de Portugal na Bienal de Veneza e que terá como objetivo dar a conhecer, ainda, outros projetos que Gabriela e Paulo desenvolvem, de forma independente, no Brasil. 
Local:
Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett

Para assistir à conferência deve levantar o bilhete gratuito (máximo 2 por pessoa) até 15 minutos antes do início do evento. Pode reservar o seu lugar antecipadamente através do email galeriamunicipal@agoraporto.pt.

Imagens: Rafa Jacinto / Fundação Bienal de São Paulo

Gabriela de Matos é arquiteta e urbanista afro-brasileira, nascida no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Cria projetos multidisciplinares com o objetivo de promover e destacar a cultura arquitetónica e urbanística brasileira, a partir das lentes de raça e gênero. É graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas (2010). Atualmente é professora na graduação de arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade. É CEO do Estúdio de Arquitetura – Gabriela de Matos, criado em 2014.  
Foi co-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no departamento de São Paulo (2020-2022), e é fundadora do projeto Arquitetas negras (2018), que mapeia a produção de arquitetas negras brasileiras. Pesquisa arquitetura produzida em África e sua diáspora com foco no Brasil. Propõe ações que promovam o debate de gênero e raça na arquitetura como forma de dar visibilidade à questão. 
 
Paulo Tavares explora as interfaces entre arquitetura, culturas visuais, curadoria, teoria e advocacia. Operando através de múltiplos meios, o seu trabalho abre uma arena colaborativa voltada para a justiça ambiental e contra-narrativas na arquitetura. Os seus projetos e textos foram apresentados em várias exposições e publicações nacionais e internacionais, incluindo Harvard Design Magazine, The Architectural Review, Oslo Architecture Triennial, Istanbul Design Biennale, e a 32a Bienal de São Paulo – Incerteza viva.  
Tavares foi cocurador da Bienal de Arquitetura de Chicago 2019 (EUA) e, atualmente, é membro do conselho curatorial da segunda edição da Trienal de Arquitetura de Sharjah 2023 (EAU). Foi curador de diversos projetos, como foi o caso de Climate Emergency > Emergence, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) de Lisboa (Portugal).  
É autor de vários textos e livros que questionam os legados coloniais da modernidade, incluindo Forest Law/Floresta Jurídica (2014), Des-Habitat (2019), Memória da terra (2019), Lúcio Costa era racista? (2020), e Derechos No-Humanos (2022). Seus projetos de design também são apresentados na Bienal deste ano no pavilhão do Arsenal. 
 
Andreia Garcia é arquiteta doutorada, curadora e professora. Os seus interesses focam-se na prática contemporânea da arquitetura numa era marcada por fortes avanços tecnológicos e uma progressiva crise ecológica. Foi docente na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho e na Architectural Association. É professora e vice-presidente da Faculdade de Engenharia da Universidade da Beira Interior. É fundadora do atelier Architectural Affairs, da Galeria de Arquitectura e diretora da Bienal art(e)facts. É curadora da representação portuguesa na 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura – La Biennale di Venezia 2023. 

Fotografia: Dinis Santos

 
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Quinta-feira, 14 de Dezembro às 19 horas

Zoos humanos, ethnic freaks y exhibiciones etnológicas – Conferência com Hasan G. López Sanz

Esta conferência abordará questões que o filósofo espanhol Hasan G. López Sanz tem vindo a debruçar na sua investigação, como as complexas relações entre exotismo e educação, antropologia e memória colonial, restituição e reparação. 
 
A apresentação incluirá, também, uma reflexão sobre a forma como a arte contemporânea tem vindo materializar estas ideias, nomeadamente através de projetos de artistas que têm vindo a desconstruir o pensamento colonial, que muitas vezes persiste em algumas das ciências humanas e da Academia.
 
"Zoos humanos, ethnic freaks y exhibiciones etnológicas. Una aproximación desde la antropología, la estética y la creación artística contemporánea", publicado por Hasan Lópes em 2017, constituiu-se, ainda, como uma das múltiplas referências para a construção do conhecimento basilar do eixo Memória de Elefante, do Ping!. A publicação, editada pela editora Concreta, aborda temas marcantes para a reflexão e debate destas questões, como foi o caso da decisão do Estado Novo em organizar a "Primeira Exposição Colonial Portuguesa", nos Jardins do Palácio de Cristal do Porto, em 1934.
Local:
Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett

Para assistir à conferência deve levantar o bilhete gratuito (máximo 2 por pessoa) até 15 minutos antes do início do evento. Pode reservar o seu lugar antecipadamente através do email galeriamunicipal@agoraporto.pt.

Imagens: [2]Lurdes Basoli, Eclipse [projeto em contínuo]
[1]Andrés Pachon, La Derrota del Rostro [vista de exposição], 2018 (em colaboração com Hasan G. López Sanz)

Hasan G. López Sanz
é doutorado em Filosofia. É professor na área de Estética e Teoria das Artes na Faculdade de Filosofia da Universidade de Valência, investigador associado do CRAL (Centre de Recherches sur les Arts et le Langage) em Paris, e membro e diretor do grupo de investigação "Grupo de estudios visuales sobre memoria de la esclavitud, el colonialismo y sus legados", entre outros projetos.
Desenvolve a sua investigação no domínio da imagem, das suas práticas e usos públicos, especialmente em relação com a antropologia, a estética e a arte contemporânea. Entre as suas publicações, incluem-se livros como o "Zoos humanos, ethnic freaks y exhibiciones etnológicas. Una aproximación desde la antropología, la estética y la creación artística contemporánea" (Concreta, 2017), "Let's bring blacks home! Imaginação colonial e formas de aproximação gráfica dos negros em África" (1880-1968) (PUV, 2020).

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