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Galeria Digital do Porto
Galeria Digital do Porto
A Galeria Digital do Porto é um circuito de arte pública digital que convida a redescobrir a cidade interagindo com projetos artísticos.
Desafiando artistas, habitantes e visitantes a pensar a cidade a partir do cruzamento entre a sua existência material e os processos de digitalização e desmaterialização, este é um projeto do Município do Porto, coordenado pela Porto Digital e com a curadoria da Galeria Municipal do Porto / Direção de Arte Contemporânea da Ágora — Cultura e Desporto do Porto, E.M., S.A. Ao cruzar arte, tecnologia e território, esta iniciativa pretende ser um acelerador crítico da dinâmica urbana, mobilizando discursos sobre o presente e futuro da cidade para estimular uma reflexão coletiva sobre o espaço público contemporâneo.
Desde instalações de realidade aumentada e paisagens sonoras, a vídeo e arquivos fotográficos e sonoros, as diferentes obras são acessíveis através de dispositivos móveis, exclusivamente nos locais para as quais foram concebidos, e podem ser visualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana.
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Sábado, 19 de julho, 18:00
Inauguração: Galeria Digital do Porto
Treze trabalhos habitam digitalmente a cidade, resgatando memórias, histórias e identidades, estimulando com isso outras perspectivas no dia-a-dia da cidade. A Galeria Digital do Porto procura fomentar o diálogo sobre o papel da arte pública digital e convida a percorrer a cidade para descobrir as intervenções artísticas de Cláudia Martinho, Diana Policarpo, Elisabete Sousa, Fá Maria, Francisco Pedro Oliveira, Jonathan Uliel Saldanha, Maria Constanza Ferreira, Mariana Caló & Francisco Queimadela, Ruca Bourbon, S4RA, Silvestre Pestana, Tiago Cadete e Vera Mota.

Paisagem Sonora Generativa
Pés na Terra - Cláudia Martinho
Neste ponto onde duas ruas se unem, a Rua de Santo André com a longa Rua de Santo Ildefonso (antiga Rua Direita), uma árvore solitária marca um lugar de reunião. Aqui, o convite é para nos sentarmos ao seu redor e escutarmos mais adentro no nosso corpo. Do mundo subterrâneo à atmosfera, a árvore, uma Magnólia, torna-se uma antena de captação e transmissão, axis mundi, para uma experiência sonora aumentada do nosso campo percetivo, revelando-se as múltiplas vozes e os ritmos orgânicos aí presentes. Abre-se um caminho sensorial, ampliam-se os sentidos, tornando o nosso corpo permeável e ressonante, para aprofundar a nossa presença, sintonização e pertença com o lugar.
No processo de criação da paisagem sonora generativa "Pés na Terra", combinaram-se diversos dispositivos de captação sonora e de transdução acústica, a sonificação de dados climáticos da rede de sensores, com análise de padrões e a sua evolução ao longo do tempo. Usam-se estas tecnologias digitais ao serviço da nossa presença participativa com os lugares, para expandir a nossa capacidade de escutar, sentir e vincular. A paisagem sonora leva-nos a uma experiência envolvente, afetiva e incorporada das variações ambientais (temperatura, humidade, pluviosidade, vento), sinais bioelétricos, padrões vibratórios, oscilações, qualidades e materialidades que nos passam desapercebidos no quotidiano e que nos integram à rede de vida que nos rodeia.

Instalação de Realidade Aumentada
Sonho da Cidade-Máquina - Elisabete Sousa
"Sonho da Cidade-Máquina" é um portal sensorial entre realidades — uma instalação de realidade aumentada site-specific, que cruza vídeo, escultura digital e tecnologia aumentada para evocar um universo paralelo que coexiste, invisível, com a matéria da cidade. Neste projeto o Porto torna-se palco de sobreposições: seres híbridos, oriundos de uma outra camada de existência, projetam-se sobre os espaços físicos, ativando fissuras no tecido do real.

Paisagem Sonora, duração aprox. 10'
Cora - Diana Policarpo
"Cora" propõe a criação de uma paisagem sonora experimental a partir do mapeamento da Bacia Carbonífera do Douro, com especial foco em São Pedro da Cova. Este território, marcado pela extração mineira, contaminação ambiental e histórias de resistência, revela-se como um campo acústico povoado por vozes do subsolo, portadoras de narrativas invisíveis. A composição nasce de uma partitura elaborada a partir desse mapeamento — uma pauta visual e geológica que orienta os ritmos, texturas e camadas da peça. O território transforma-se, assim, num corpo vibrante, cujas cicatrizes ecológicas e ecos humanos são traduzidos para o plano sonoro.
O projeto funde sons gerados por fungos micorrízicos e plantas — captados por processos de bio-sonificação — com fragmentos de vozes humanas, criando uma composição que entende o som como gesto de escuta e de cuidado para com o solo. Fungos e plantas, enquanto agentes regeneradores de ecossistemas degradados através da micorremediação e fitoremediação, tornam-se também compositores invisíveis, traduzindo o subterrâneo em ritmo e frequência.
Trata-se de imaginar uma escuta partilhada entre organismos subterrâneos e corpos humanos, onde ouvir e curar o território contaminado se torna um ato conjunto. Os sons recolhidos evocam memórias de trabalho e resistência, sobretudo as de mulheres ligadas ao passado industrial da região. Esses elementos entrelaçam-se numa estrutura sonora contínua — uma partitura viva — que emerge do contacto entre organismos, território e tempo. "Cora" propõe, assim, a construção de uma escuta expandida e interespécie, transformando o espaço sonoro num abrigo — uma concha acústica onde reverberam histórias, pulsações e possibilidades de regeneração ecológica.

Instalação Audiovisual, duração aprox. 10'
Se A Minha Voz Falasse - Fá Maria
"Se A Minha Voz Falasse" é uma instalação audiovisual composta a partir de testemunhos de pessoas queer e trans sobre as suas vivências na cidade do Porto. Através da escuta, das palavras e da criação sonora, o projeto mapeia afetivamente as relações entre corpo, memória, identidade e espaço urbano, refletindo sobre a interseção entre vida noturna e diurna e os espaços físicos e digitais. A peça retrata um Porto histórico e contemporâneo, centralizando vozes e experiências queer e trans. As histórias do passado, do presente, bem como as projeções de um futuro desejado, cruzam-se para formar um mapeamento emocional, sensorial e político da cidade, onde cada voz, cada som e cada batida contribuem para mapear, física e digitalmente, um Porto queer e trans — por vezes invisível, mas influente na construção da malha da cidade.

Paisagem Sonora, duração aprox. 10'
Hidrografia Interior - Francisco Pedro Oliveira
"Hidrografia Interior" é uma paisagem sonora inspirada na antiga rede de abastecimento de água do Porto, com especial atenção na Arca de Água de Mijavelhas. A peça propõe uma escuta subterrânea e líquida da cidade, onde sons gravados e sintetizados se fundem num fluxo mais ou menos contínuo, evocando os caminhos ocultos da água, a sua memória e presença invisível mas latente e cutânea. Apresentada em formato digital, numa experiência binaural mediada por dispositivos móveis, "Hidrografia Interior" convida a uma escuta íntima e errante — como se o som escorresse de forma fluída para o ouvido.

Instalação de Realidade Aumentada
Archangel Protocol: Basilisk - Jonathan Uliel Saldanha
Emergindo do solo como um sinal encarnado, "Protocolo Arcanjo: Basilisco" ocupa o espaço público enquanto entidade ótica — parte sentinela, parte miragem. Construída em realidade aumentada e forjada em geometrias refletivas semelhantes a lâminas, a escultura evoca tanto a verticalidade da arquitetura sagrada quanto a tensão enrolada das criaturas míticas.
Esta não é um monumento, mas uma interface de transmissão — um protocolo que ativa a convergência entre lógica celestial e pavor subterrâneo. O "arcanjo" é uma inteligência sintética, um emissário tático codificado para vigilância, reverberação e transformação. O "basilisco", cujo olhar poderia petrificar, funciona como um sistema de alerta ótico: a escultura vê-nos tanto quanto é vista.
Em diálogo com a prática mais ampla de Jonathan Uliel Saldanha — onde sinal, ritual e sistemas especulativos se entrelaçam — esta obra apresenta-se como uma aparição espectral no espaço urbano. É simultaneamente interrupção e presença, estratificada na cidade como um fantasma encriptado. Através da sua lente aumentada, "Protocolo Arcanjo: Basilisco" reflete as geometrias assimétricas de um mundo em mutação: onde anjos usam espelhos, e monstros falam em código.

Instalação de Realidade Aumentada
Alminha: An Ode to Lost Souls - Maria Constanza Ferreira
"Alminha: An Ode to Lost Souls" é uma instalação de realidade aumentada que reimagina os pequenos santuários encontrados à beira ao longo das estradas de Portugal. Estes espaços, simultaneamente públicos e íntimos, são dedicados às almas no purgatório, perdidas em trânsito ou suspensas entre mundos. São altares sagrados e quotidianos que servem como espaços devocionais onde os vivos oferecem orações, acendem velas e deixam flores, caracterizados como lugares liminares entre a vida, a morte e a paisagem.
Enraizados na doutrina católica, levantam questões: o que define uma alma perdida? Pode esta ser salva ou guiada? Como espaços de devoção doméstica, implicam uma "limpeza" espiritual. Tradicionalmente cuidados por mulheres, envolvem gestos como limpar, colocar flores e acender velas — semelhantes a rituais de manutenção de cemitérios.
Esta instalação insere uma "alminha digital" na paisagem do Porto. Mais do que um objeto de veneração, "Alminha: An Ode to Lost Souls" é um memento mori digital, uma pausa poética que reflete sobre perda, migração, deslocamento e a espiritualidade nas cidades contemporâneas. Um altar e um túmulo para ninguém em particular, mas para todos. Uma luz acesa pelos vivos para guiar todos os que estão a navegar no escuro.

Vídeo, duração aprox. 20'
Cidade Delirium - Ruca Bourbon
"Cidade Delirium" propõe uma leitura fragmentada e sensorial da cidade do Porto, construída através de um entrelaçamento de técnicas visuais e temporais. A partir de material de arquivo da instalação "Criptoporto", de animações construídas com colagem, found footage da RTP Arquivos e gravações de campo, o projeto ensaia uma cartografia afetiva e distorcida do tecido urbano, onde o passado, presente e futuro se sobrepõem em camadas móveis e imprevisíveis.
A cidade é pensada não como um espaço fixo, mas como um organismo vivo — um corpo em constante mutação, memória e ruído. Através da manipulação algorítmica de imagens e da justaposição de registos históricos com fragmentos encontrados, cria-se uma experiência onírica que desafia a linearidade narrativa e a objetividade documental.
Mais do que representar o Porto, este vídeo tenta decodificá-lo: captar os seus ritmos dissonantes, as suas vozes escondidas, os seus fantasmas tecnológicos e mostrá-los como uma transmissão anómala. O espectador é convidado a habitar a cidade por breves instantes como se habitasse uma rêverie — confuso, incómodo e inevitavelmente delirante, através de uma lente alterada — uma espécie de segunda pele, que observa, interpreta e distorce.

Arquivo Fotográfico e Sonoro
Desenhos, Táticas e Sinais, Uma Arqueologia Urbana - Mariana Caló & Francisco Queimadela
Paredes, postes, muros entre outras superfícies, fornecem-nos pistas sobre a vida na cidade, a marginalização, as injustiças sociais, as migrações, as guerras, assim como contêm alguns indícios de ativismo e preocupação por um mundo diferente. Nestas expressões podemos também encontrar táticas e mensagens de demarcação de território relativas a relações interpessoais de amor ou de poder. O desenho que surge no espaço urbano enquanto impulso identitário e ideológico, mas também enquanto gesto de apropriação de lugar, de resistência ou de extravasamento, é aqui colocado em observação e escuta enquanto objeto e artefacto.
"Desenhos, Táticas e Sinais, Uma Arqueologia Urbana" propõe uma análise às inscrições do grafismo urbano como vestígios arqueológicos, que se renovam com regularidade e revelam diferentes sentidos estéticos, com variações no estilo e tipos de representação, ao mesmo tempo que inscrevem mensagens, símbolos e imagens que, ainda que utópicos ou aparentemente contraditórios e disruptivos da ordem no espaço público, procuram muitas vezes um sentido pacificador, num movimento perpétuo de intervenção e desafio ao exercício da memória coletiva.
Neste arquivo fotográfico e sonoro, procurou-se dar um enquadramento possível dentro do imaginário urbano, a diversas expressões no contexto portuense, nos diversos elementos iconográficos, nas manifestações efémeras e grafismos circunscritos à área onde é possível aceder aos diferentes projetos da Galeria Digital do Porto.
Através deste levantamento fotográfico de grafismos, grafitos, retratos fragmentários e parciais do espaço urbano no centro da cidade, associados a fragmentos sonoros, é possível imaginar um percurso pedonal para aceder a expressões de origens diversas. Este mapeamento visual poderá sugerir ao pedestre um sentido de procura e descoberta pelas imagens e símbolos, resultando num processo de navegação e descoberta pelas superfícies táteis.

Vídeo, duração aprox. 3'
Strong Hands - S4RA
A arquitetura sólida do Porto como suave recipiente de desejo & cuidado. utilizando a tecnologia para acionar uma coreografia de memórias através de ecos & falhas algorítmicas. como uma dança lenta, explorando a forma como o desejo se traduz em estética do trabalho emocional & transformar-se em ato de reverência, lentidão & vulnerabilidade que se recusa a afogar sob o capitalismo.

Instalação de Realidade Aumentada
Pólen R.A. - Silvestre Pestana
"Pólen R.A." apresenta as névoas da cidade do Porto que invocam uma densa humidade telúrica. A instalação de realidade aumentada apresentada é gerada simbolicamente pelo duplo exercício de fusão entre o gelo e o fogo, no extenso corpo térreo ciclicamente polinizado.

Paisagem Sonora, 11 faixas, duração aprox. 5' cada
Passeio - Tiago Cadete
"Passeio" é uma situação sonora que acontece na Rua de Fernandes Tomás 760, no Porto. O projeto parte de depoimentos recolhidos neste mesmo local, por pessoas que habitam diariamente o espaço ou que estão apenas de passagem. O que se escuta entra em justaposição com o que se vê, e é nessa sobreposição temporal que "Passeio" opera — entre o real e o imaginado.

Instalação de Realidade Aumentada
Liminal Flesh - Vera Mota
"Liminal Flesh" propõe a transferência de métodos generativos do desenho para a linguagem digital, informando esse processo com as propriedades físicas e comportamentos dos materiais. A participação direta do corpo é substituída por instruções que operam ferramentas digitais; o gesto é codificado, transformado e multiplicado através de sistemas generativos, promovendo a modificação contínua de uma massa informe e rugosa.
Esta matéria mutante — que guarda simultaneamente o alicerce do gesto e a densidade de rocha vulcânica ou a viscosidade de tinta fresca — dialoga aqui com uma segunda entidade: uma forma esguia, rígida, metálica, que a atravessa como uma estrutura esquelética que sustenta músculos em desordem.
Através da realidade aumentada, "Liminal Flesh" manifesta-se como uma presença suspensa, inscrevendo-se no espaço do Jardim de São Lázaro sem nele se fixar. O jardim, tradicionalmente associado à contemplação e à regência natural, é aqui reprogramado como palco de uma aparição instável, onde os sentidos são solicitados a renegociar os seus próprios parâmetros de perceção.